ASCURI: Nosso Jeito de Ser - Ñadereko/Kixovoku
Nós da Associação Cultural dos Realizadores Indígenas (ASCURI) somos um grupo de jovens realizadores/produtores culturais indígenas de Mato Grosso do Sul (Brasil) que busca, por meio da linguagem cinematográfica e das novas tecnologias de comunicação, desenvolver estratégias de formação, resistência e fortalecimento do jeito de ser indígena tradicional.
A ASCURI foi idealizada em 2008 durante a oficina "Cine Sin Fronteras", realizada em um povoado na Bolívia e organizada pelo documentarista Quechúa, Ivan Molina (diretor da então Escuela de Cine y Artes de La Paz - ECA, hoje IFAECA). De volta ao Brasil, nos deparamos com uma conjuntura em que abundavam projetos de formação em audiovisual financiados por órgãos governamentais. Tais projetos, por um lado, deram lugar a um processo de reconexão dos jovens integrantes da ASCURI com seu jeito de ser indígena, mobilização importante em meio a um contexto de vida marcado pela constante tensão provocada pelos conflitos territoriais da região. Por outro lado, produziram expectativas que se revelaram inviáveis, já que estes cursos eram de curta duração e não tinham sua continuidade garantida (formação, aperfeiçoamento e organização). Em 2012, a ASCURI se formalizou como uma Associação sem fins lucrativos, atendendo aos requisitos jurídicos para estabelecermos novas parcerias e alcançarmos maiores possibilidade de financiamento para nossos projetos.
Tal percurso levou a ASCURI a estar mais próxima dos rezadores (Ñanderu e Koexumoneti) das comunidades junto às quais atuamos, estando estes sempre presentes em nossos filmes, oficinas e nos encontros que realizamos. Esse intercâmbio de conhecimentos entre os mais novos e os mais velhos contribui para a diminuição da brecha que separa estas duas gerações, fazendo com que nós mesmos, enquanto jovens indígenas, compreendêssemos melhor nosso lugar na constituição sociocultural e política dos povos aos quais pertencemos.
A ASCURI atualmente se estabelece como uma alternativa pensada por realizadores indígenas Terena, Kaiowá e Quechúa frente ao modo predominante de se pensar e de se fazer cinema na América Latina. A partir de nossa experiência, acreditamos que novas mídias devam ser usadas em prol dos nossos direitos originários e da garantia de nossa participação ativa em temas que nos dizem respeito, tais como a gestão de nossos territórios, sua conservação ambiental, o uso de seus recursos naturais, e o desenvolvimento de políticas de segurança alimentar.
Nesse sentido, a ASCURI permite uma maior autonomia dos jovens realizadores/produtores indígenas com relação à construção de suas auto-representações, o fortalecimento de nosso coletivo junto às nossas aldeias (Tekoha ou Vemeuxá), além, é claro, a celebração daquilo que temos de mais importante: o nosso jeito de ser (Nãndereko ou Kixovoku).
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@ascuri.ms